Brasil. Quando a xenofobia chega a sua frente.

Sabe aquelas histórias que te contam e demora para cair a ficha?

Não que você não sabia que tais coisas aconteçam. Mas como nunca aconteceu com gente que você conhece. Logo, tudo parece tão distante que o sentimento não chega perto de você.
É o famoso paradoxo do laboratório. Onde você faz empatia pelo sentimento, mas está tão distante que seu esforço em fazer empatia não reflete o sentimento. Até porque nunca viu, nunca olho nos olhos de alguém que tem sentido o feito de tal sentimento.

Conheço um britânico a vários anos. Conversamos sobre assuntos como cotidianos, políticas, comportamento e afins. Conversamos de tudo e sobre tudo. E todas as segundas e quartas, tomamos um café da tarde na Padaria. Faço questão de pagar o café todas as vezes que nos encontramos. Eu me benefício da conversa em inglês e tudo ficar bem para os dois.

Em nossas conversas ele sempre me falou da dificuldade de se regularizar no país, de conseguir documentação no país. Tudo caro, tudo tem taxa e tudo muito complicado.
Da dificuldade de encontrar emprego no país devido à falta de documentação e por ser estrangeiro e falar mal pra caramba o português, apesar de estar no Brasil a mais de cinco anos. Tudo gera uma dificuldade a mais.

Como venho acompanhando a história dele, me lembro do momento em que ele tirou o seu RNE (Registro Nacional de Estrangeiro). Um documento para estrangeiros que vivem no País. Depois foi a CNH (Carteira Nacional de Habilitação), a famosa carta de motorista.
E por fim, conseguiu a sua CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social), o documento que todo empregador exige para efetuar o registro do empregado. E tudo isso para nós brasileiro, conseguimos em alguns dias. Para ele... demorou muitooo tempo.
Mas ele conseguiu tudo. Fiquei feliz por ele e com ele.

Fiquei curioso e comecei a pesquisar sobre a dificuldade de estrangeiros encontrarem um lugar ao sol aqui no Brasil e encontrei vários blogs de pessoas falando dos atalhos para tentar cortar caminho, mas para pessoas que chegaram ao país como ele. Chegou e ficou. As coisas não parecem ser tão simples.

Es que o dia chegou! Conseguiu um emprego registrado. O que era tudo o que ele queria.
Me lembro que em nossas conversas ele falava. Pode ser um emprego simples mesmo. Eu só preciso ter um registro na minha carteira e depois eu vou conseguir ir a diante. E deu tudo certo.
Conseguiu um emprego de promoter. É um profissional que repõe produtos nas prateleiras de supermercado para um produto específico. O que para ficou supertranquilo. Dava para arrumar as prateleiras em todos os supermercados em que foi escalado e ainda dar aula. E mais... Começou a fazer planos para colocar para alugar um carro e fazer um serviço extra de motorista de Uber. Feliz!

Pois então... Es que o sentimento de profunda tristeza estava nos olhos de quem me olhava...

Cheguei para a aula, ele me esperava. Pegou o celular e jogou na minha frente com a imagem de uma mensagem no whatsapp de um documento e me disse. Leia!
Logo no cabeçalho "AVISO PRÉVIO"... Entendi o que estava acontecendo. Estava em processo demissionário. Perguntei: Mas o que foi?! Corte de custos? Qual foi o problema? Me parecia estar tudo bem.

Ele ex-militar das forçar armadas britânicas me olhando fixo. Percebi sua luta interior com aquele sentimento e começou a me contar...

Um dia cheguei no serviço e conversei com meu chefe sobre os produtos para colocar nas prateleiras que estava acabando.
Ele começou a fazer a distribuição e não me deu nada. E olhando para mim no meio de todos me disse:
Pra você não tem nada. Não vou de dar nada porque você é estrangeiro. É gringo.
Falou na frente de todos. Ninguém fez nada. Eu fiquei sem produtos.
Achei que deveria reclamar meus direitos e foi falar com o Gerente.
Expliquei para o Gerente o caso. E o Gerente voltou-se para mim disse: Infelizmente não posso fazer nada. Esquece esse assunto.

Passados poucos dias ele recebeu a carta.
Eu fiquei indignado com a história que ele me contou. Pois isso é crime aqui no Brasil.
Mas ele ficou só! Uma palavra contra a outra e todos os empregados com medo de retaliação.
Ninguém se levantou. Ninguém falou absolutamente nada.
Terminei de ouvir a história... Fique inerte!
E para acrescentar me isso:

Sabe o que eu não entendi... É que meu chefe é negro. Jamais esperaria algo assim.

Um caso claro de xenofobia que na minha vida toda nunca havia chegado a mim. Falei isso para ele. Nunca havia visto ou ouvido nenhuma história como essa.
Que o Brasil é um país conservador, com escolaridade baixo, com baixa nível de confiança social. Tudo isso eu sei... Moro aqui! Só nunca tive conhecimento de tamanha Xenofobia com uma pessoa conhecida.

Contei essa história para a senhora que me ajuda em casa. Ela me contou outros casos que ela presenciou com Haitianos no metrô lotado e ninguém falou nada. Me contou outros ainda que nem vale apena escrever a respeito... Ou vale não sei. Vou ter que acrescentar o adjetivo de xenófobo aos brasileiros?! Que triste!!

fonte

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