Emergência e SUS

in #pt6 years ago (edited)

Então, aproveitando o tempo aqui hoje, vou trazer um pouco sobre o plantão médico.

As séries de televisão tendem a gourmetizar a atividade médica, a única que realmente traz algo da realidade é Sob Pressão, que passa na TV Globo. Mesmo assim está longe de trazer como é a vida de plantão em emergências no Brasil.

Primeiro é preciso diferenciar os termos Emergência e Urgência.

Emergência e risco de morte iminente, ou seja, imediato. Deve-se intervir imediatamente nesses casos. Ex: Infarto Agudo do Miocárdio, Intoxicação Exógena por uso de veneno de rato(chumbinho) por tentativa de suicídio, etc.

Urgência é caracterizado por quadros que causam transtornos, com ou não risco de morte, porém não risco iminente. Ex: cólica renal, Agorofobia, lombalgias, etc.

São termos que só podem ser diferenciados no caso a caso, e que podem ter intercambio de acordo com as circunstâncias.

Outro aspecto importante é a especialidade que se busca. O corpo de saberes dentro das ciências médicas é enorme, e tecnicamente todos tem um comum de formação, mas existe muitas especificidades dentro de cada área.

Existem diferentes emergências. As emergências clínicas gerais, cirúrgicas, psiquiátricas, obstétricas e pediátricas são as principais. Podem ainda ter oftalmológica, otorrino, ginecológica, etc...

No Brasil o SUS é o sistema público de saúde, e na descentralização do Estado, desde a instauração da última república, o município é o responsável pela execução das políticas de saúde. Por isso o SUS é tão diferente de região para região, evoluindo de acordo com o investimento e lideranças regionais.

Na cidade do Rio de Janeiro o SUS avançou bastante, infelizmente o governo atual do pastor Crivela vem acabando com um dos mais avançados e acessíveis sistema de saúde pública do mundo. É extremamente triste vivenciar isso, anos de trabalho sendo jogado fora por políticas ideológicas. E olha que o que não falta são esquemas de corrupção envolvendo as Organizações Sociais, e partidos políticos. As OS's foram o primeiro passo da privatização da saúde pública brasileira. Lembro que antes do SUS a assistência á saúde era realizada pela Igreja e Instituições beneficentes, o Estado só tinha hospitais para servidores públicos. Particular existia, servindo a pessoas com muito dinheiro, e só estudava para ser médico também quem tinha muito dinheiro.

Voltando às Emergências, as mesmas são consideradas portas de entrada do SUS, qualquer pessoa pode ir a emergência. Já fiz muito plantão de clínica geral e CTI, trabalhar em emergência de clínica geral no Brasil é adoecedor.

Por isso falta médico no interior, só aceita trabalhar em condições precárias de assistência quem é obrigado, não a toa os cubanos vieram. Além dos calotes frequentes que levamos das prefeituras ou OS's. Aquela conversa de pelo menos tem alguém lá para atender, é conversa de quem nunca assinou um atestado de óbito, e sentiu na pele a sensação de impotência em saber que as pessoas estão morrendo porque não tem o básico para sustentar qualquer intervenção, e você sabe que poderia salvar muitas delas. É dever ético não ceder às condições insalubres da assistência médica e ser conivente com as demandas dos administradores que só ligam para seus próprios interesses, as custas do sofrimento e desconhecimento popular.

Não adianta chegar alguém com dor no peito, e não ter nada na unidade de saúde, ou protocolos de transferências para assistir a demanda, só para dizer que tem alguém ali para assinar o atestado de óbito. Saúde não é igual a médico, saúde envolve outras profissões, estrutura de trabalho, materiais de trabalho, medicações...

Na emergência psiquiátrica costuma vir demanda espontânea, quando o paciente ou família procura, por demanda institucional como encaminhamentos de serviços periféricos,
ou por demanda de via pública trazidos por bombeiros e/ou policiais.

São muito comuns quadros de ansiedade generalizadas, transtornos depressivos, intoxicações por substâncias, surtos psicóticos e tentativas de suicídios. A função do médico psiquiatra é delimitar se o quadro apresentado é uma urgência, emergência, demanda ambulatorial ou nenhum desses, e orientar o paciente.

Deve-se tentar sempre não deixar pontas abertas, se julgo que é emergência, tenho que intervir imediatamente. Urgência também, acaba que serve para diferenciar prioridade de atendimento. Se julgo que é ambulatorial devo encaminhar o paciente para o serviço de referência de acordo com endereço do paciente, são os Caps - Centro de Atenção Psicosocial (pacientes mais graves) e Clínicas da Família(menor gravidade).

Discorri um pouco sobre emergências, uma abordagem geral. Ressalto que entendo a saúde como um direito civilizatório de imenso impacto social. A descentralização da saúde e assistência a população salva muitas vidas, ajuda muita gente a ter condições de trabalhar, e talvez junto a segurança e educação, seja uma das poucas formas que o Estado efetivamente atua na população. A saúde não tem lado de esquerda ou direita, a saúde é um bem humano comum a todos nós. A saúde pública não inviabiliza a privada, o teto da saúde é desculpa de quem não tem um pingo de humanidade, votado por pessoas que ganham saúde privada às nossas custas, já que as menores fatias do PIB são endereçadas a saúde e educação.

O SUS não é dos governos, não é meu, não é seu, é de todos nós. O maior sistema de saúde público do mundo é uma conquista histórica, e ainda tem muito por fazer, ainda tem muito por melhorar. Exímio produtor de ciência, capacitação profissional, e assistência a população. Podemos reclamar do SUS hoje, porque ele existe, e antes? Só hoje foram atendidos por aqui pelo menos umas 200 pessoas em 24horas. E olha que a emergência que estou é pequena, de baixa complexidade.

Tenho muito orgulho, e sou extremamente grato, por trabalhar e estudar no SUS há 10 anos, corando minha formação de especialista em psiquiatria pelo SUS do Rio de Janeiro no início do ano que vem.

Por uma sociedade com menos políticos e mais SUS!


#pornenhumservicoamenos #oSUSenosso

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