Credit: Paramount Pictures / edited by Kubrickamente
Uma das experiências fílmicas mais interessantes do século XX foi a tentativa dos cineastas de encontrar um equilíbrio saudável entre a criação de estruturas narrativas mais ambiciosas e inovadoras, como o uso de várias linhas temporais, e a preservação da coerência do ponto de vista das personagens. Entre esses exploradores estava Francis Ford Coppola que, depois do enorme sucesso de The Godfather (1972), resolveu injetar a segunda parte deste drama criminal com o ponto de vista não só da personagem principal, Michael Corleone (Al Pacino), como do seu pai, Vito Corleone (Robert De Niro), enquanto jovem, funcionando o filme simultaneamente como prequela e sequela da obra original – duas linhas temporais distintas, duas personagens diferentes, uma realidade semelhante. Ao longo de mais de três horas, vamos explorando o passado de Vito, conforme este se ambienta a Nova Iorque e sobe na hierarquia do submundo criminal, ao mesmo tempo que assistimos à tentativa do seu filho, três décadas mais tarde, de preservar o império criado pelo pai. Aos poucos, apesar de viverem em tempos diferentes, os pontos de vista das duas personagens começam a mesclar-se numa só criatura indomável, numa entidade predadora à qual todos chamam “Don Corleone”. Porém, se para Vito essa emancipação foi um grito de liberdade, a expansão duma vontade inquebrável de devorar o “sonho americano”, para Michael, essa soberania ganha a tiro transforma-se numa prisão, num caminho sinuoso para o declínio ético e moral. Existe, portanto, um fluxo narrativo que leva a que o “sonho” do primeiro seja espelhado pelo “pesadelo” do segundo e que as atitudes de um, movidas pela ambição de construir um legado, encontrem um paralelo negro nas atitudes do outro, motivadas pela obrigação de defender esse legado. É devido a essa simbiose sombria que The Godfather: Part II pode ser considerado um dos filmes mais bem estruturados de sempre, assim como um exemplo quase perfeito de como concretizar uma sequela. Ao apresentar uma linha temporal alternativa, Coppola não só fortaleceu a narrativa de Vito Corleone como um todo, como criou uma ponte de ligação com os dilemas que devoram o seu herdeiro, nascendo no processo o vislumbre duma epicidade dramática raramente alcançada no cinema moderno.
The Godfather é uma trilogia espetacular, contudo gostei mais da primeira parte!
Descobri hoje o teu blog, e já vi que falas de vários filmes. Estou-te a seguir para ver as tuas sugestões de filmes.
Se tiveres telegram: Steemit Portugal
Abraço.
essa série de filmes, sensacional!