O Pobre Chutador de Pombos

in #pt6 years ago

Conheci um sujeito que tentava chutar pombos que estivessem no chão ao seu alcance enquanto caminhava. Ele dizia que eram ratos de asas.

Nunca vi tanta estupidez, pois certamente não os mataria com aqueles chutes. Os pobres bichos, caso os acertasse, agonizariam até morrer.

Mesmo sabendo que são nocivos (quando o hábito de alimentá-los leva à superpopulação) sempre admirei esses bichos. Gosto de vê-los com seus, aparentemente, frágeis pés vermelhos na sua luta diária de vida ou morte em busca de comida pelas ruas caóticas da cidade. Há ali lições de adaptabilidade, esperteza, resiliência... Sobrevivência.

Entendo (mas não aprovo) o prazer dos que gostam de lhes atirar comida.

Para mim, suas revoadas pelos céus da cidade são uma das coisas mais belas de se ver. Embora, é certo que não compensam a sujeira que eles irão fazer em algum outro lugar. Então, é claro que é melhor que existam poucos.

Também gosto de lembrar o pouco que sei dessa espécie. A história deles está entrelaçada com a nossa. Vem-me a mente o pombo-passageiro. Extinto por nós. Este que talvez formasse os maiores bandos já visto. Eram milhões de pássaros que tornavam o dia noite. Eram tão barulhentos que impediam até uma conversa entre os que se encontravam sob sua passagem (como dizem os relatos). Lembro-me também do dodô. Também extinto pelos humanos. Ele também era da família dos pombos. Era um pombo que se adaptara a uma ilha sem predadores (tornara grande e incapaz de voar). E por fim, lembro-me do Darwin, um grande admirador dos pombos. Ele que, na sua obra prima, descreve detalhadamente alguns fatos sobre a criação dessas aves. Ele detalha as diferentes e exóticas raças criadas pelos humanos. E mostra como - juntamente com os cães e outras espécies domesticadas - os pombos ajudam a entender a teoria da evolução.

Enfim, nesse entrelaçamento de histórias podemos ver o que há de admirável e o que há de deplorável em nós e neles.

Assim, acredito que um conhecimento mais profundo das nossas inter-relações com as outras espécies nos tornaria seres mais tolerantes. Seríamos, então, capazes de admirar mesmo aqueles seres que são nossos adversários na luta por espaço e recursos neste mundo de escassez.

Admirai-vos uns aos outros (pelo menos sobre alguns aspectos). Esta é a mensagem de quem é capaz de ver a verdadeira natureza de cada forma de vida que existe neste planeta.

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