"Executivos Negros: racismo e diversidade no mundo empresarial" ganha prêmio Jabuti e segue para segunda edição
Fruto de uma tese de doutoramento, o livro "Executivos Negros: racismo e diversidade no mundo empresarial" (Edusp, 2016), escrito pelo professor Pedro Jaime, do Departamento de Administração do Centro Universitário FEI, recebeu no final de 2017 dois prêmios importantes, o Jabuti, na categoria Economia, Administração e Negócios e o ABEU (Associação Brasileira das Editoras Universitárias) na categoria Ciências Humanas.
A primeira tiragem da obra se esgotou em menos de um ano e não circulou apenas no mundo acadêmico, fato que proporcionou muita satisfação para Jaime: "Ele despertou o interesse de jornalistas, de profissionais de empresas, de ativistas dos movimentos sociais, dentre outros públicos. As mensagens que tenho recebido pelas minhas redes sociais me chegam como uma injeção de ânimo", conta.
Negros no mundo empresarial: a realidade brasileira e o contraste com os EUA
Resultado de entrevistas com executivos negros de duas gerações diferentes, além de conversas com ativistas antirracistas, representantes do setor público, lideranças empresariais, gestores de RH, consultores de diversidade, o livro mostra que a construção das trajetórias destes profissionais passou por transformações importantes no Brasil entre o final dos anos 1970 e o início do século XXI, apontando para um cenário mais favorável neste novo século. Apesar disso, o professor ressalta que "a desigualdade que marca a presença de brancos e negros no mundo empresarial brasileiro é ainda chocante".
Tomando como referência dados atualizados pelo IBGE em 2016, 54,9% da população brasileira é formada por negros (pretos e pardos, segundo a classificação do instituto). Porém, os negros representam apenas 4,7% dos indivíduos que ocupam postos de direção e 6,3% daqueles que estão nos cargos de gerência das 500 maiores empresas que operam no Brasil, segundo a edição de 2016 da pesquisa Perfil Social, Racial e de Gênero, realizada pelo Instituto Ethos em parceria com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento).
Já nos Estados Unidos, os negros representam 12,6% da população e correspondem a 9,4% dos executivos em cargos de direção nas 100 maiores companhias do país, de acordo com o The Executive Leadership Council. Logo, para termos uma representação de negros no mundo empresarial brasileiro equivalente àquela encontrada nos EUA, que já é desigual, deveríamos contar com 41% de afrodescendentes nos postos de direção das empresas. O professor afirma que "estimativas econômicas divulgadas pelo Instituto Ethos apontam que, no atual ritmo de evolução, a equidade racial nos postos de decisão das empresas só ocorrerá em pelo menos 150 anos".
E adverte então que "se os Estados Unidos possuem indicadores bem melhores do que os brasileiros, isso se deve ao fato de o Estado nesse país ter implementado ações afirmativas para a inclusão dos negros no mercado de trabalho desde o final dos anos 1960, no quadro das lutas pelos direitos civis que culminaram com o fim do sistema de segregação racial".
Duas gerações de executivos negros – anos 1970 e 2000
Nascido na Bahia, estado brasileiro com maior contingente de afro-brasileiros na população, Jaime desenhou seu percurso profissional transitando entre os campos da Antropologia, da Sociologia e da Administração. Nesse percurso, percebeu que, embora haja mais de um século de tradição de pesquisas sobre relações raciais nas Ciências Sociais no Brasil, o mundo empresarial não tem sido o locus empírico privilegiado nas pesquisas sociológicas e antropológicas brasileiras sobre esse tema.
Os estudos que culminaram na obra ganhadora de dois prêmios foram divididos em dois eixos. De um lado, o autor reconstruiu as trajetórias sociais e os percursos profissionais de dez sujeitos (homens e mulheres) que representam o que denominou de primeira geração de executivos negros, aquela formada por indivíduos negros que ingressaram no mercado de trabalho no final dos anos 1970 e que alcançaram postos gerenciais ou de direção em grandes empresas nacionais, ou corporações transnacionais que operam no Brasil. De outro lado, fez um mapeamento do cenário que se abria para a segunda geração de executivos negros, definida por ele como aquela formada por jovens negros que entraram no mundo empresarial no início do século XXI e que almejavam carreiras executivas.
Com a segunda edição de seu livro chegando às livrarias, o professor continua as pesquisas sobre a questão racial e a diversidade nas empresas e espera trazer novas contribuição para a reflexão sobre as trajetórias profissionais de executivos negros, no Brasil, ou para além dele. Para tanto, está iniciando um estudo comparativo sobre as trajetórias profissionais de executivos negros no Brasil, Estados Unidos e França.
Gostei da análise. Fernando no temos uma tag chamada biblioteca, acho que pode ser útil nesse post e futuros. Para saber mais, olhe essa postagem https://steemit.com/pt/@brazilians/discutindo-literatura-no-brazilians-1https://steemit.com/pt/@brazilians/discutindo-literatura-no-brazilians-1
Abraço!