Preste muita atenção para não deixar morrer o resto que ainda está vivo…
(Apocalipse 3,2)
Um apocalipse é uma obra literária que lida com o fim da história humana. Durante milênios, apocalipses de diversos tipos surgiram na vida cultural de povos e religiões do mundo todo. Eles são gerados por especulação filosófica, por visões de futuro ou por apreensões e desejos inarticulados, e não raramente pela paixão humana duradoura que J.R.R. Tolkien chamava de “sub-criação”. Esses poemas, epopéias, fantasias, mitos e trabalhos proféticos comportam um testemunho universal do estado transiente do homem sobre a Terra. O homem é um estrangeiro e um peregrino. Sua existência é indizivelmente bonita — e perigosa —, carregada de mistérios que pedem para ser decifrados. A palavra grega apokalypsis significa descobrir, ou revelar. Através de tais revelações o homem contempla o panorama da história humana em busca de uma resposta para sua identidade, em busca de continuidade e realização.
Talvez a pior parte da “demitologização”, tão endêmica em nossa época, seja a mensagem de que as histórias da Fé Cristã não passam de nossa versão dos “mitos” universais. Sugere-se que muitas culturas produziram contos sobre um herói que é morto e então retorna à vida; muitas mais imaginaram um cataclismo que acontecerá no final da história. G.K. Chesterton escreveu certa vez que a posição dos demitologizadores pode ser resumida assim: uma vez que uma verdade tenha sido profundamente impressa na imaginação de um grande número de povos antigos, ela simplesmente não pode ser verdade. Ele destacou que o demitologizador falhou em examinar a consideração mais importante de todas: que pessoas de várias épocas e lugares podem ter sido informadas, em um nível intuitivo, dos eventos reais que um dia aconteceriam na história; que em suas crenças interiores havia um vislumbre de luz, um pressentimento, um anseio expressado pela arte na direção da totalidade da Verdade que um dia seria tornada corpórea na Encarnação. O Apocalipse de São João é um apocalipse de ordem superior. É profecia genuína no sentido de que não é mero trabalho de previsão, mas uma comunicação feita pelo próprio Senhor da história. É uma exortação, um encorajamento, um veículo de ensino e uma visão dos eventos que um dia acontecerão de fato.
Conforme o drama de nosso tempo se acelera em direção a um clímax desconhecido surgem numerosas especulações e uma nova atenção é dada ao Apocalipse de João, estimulando uma abundância de interpretações. Certa escola de pensamento defende que o livro se refere apenas à época de João; outra assegura que é uma meditação sobre o fim das coisas em um futuro indeterminado; outra ainda acredita que o livro é um mapa da história da Igreja, desdobrado em sete épocas principais. Uma quarta interpretação — a que é favorecida pela maioria dos Pais da Igreja — sustenta que ele é uma visão teológica de uma vasta paisagem espiritual, com descrições da situação da Igreja na época de João e com os eventos que ainda serão revelados no final dos tempos. Para João, os “tempos finais” começam com a Encarnação de Cristo no mundo, e subsistem apenas numa última batalha pela qual a Igreja deve passar.
— Michael O’Brien, Apocalipse: A história de Padre Elias
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