A Rainha Ginga

Olá bom dia,
Chamo-me Rainha Ginga, mas para os amigos sou só Ginga (a minha dona é uma querida, mas resolveu apropriar-se do meu nome para essa aventura que ela diz chamar-se Steemit).

Tenho 10 anos e desde o meu primeiro mês de vida, vivo com os meus amigos, Maria e José.

Já tive uma companheira de folias, chamava-se “Miúda”, infelizmente, há cerca de dois anos fiquei sozinha, ela adoeceu e os veterinários não conseguiram salvar a “minha Miúda”.

Nunca a esqueci, mas acabei por retomar as minhas brincadeiras, ou melhor dizendo, as minhas traquinices.

Explico. Adoro ir para o jardim subir às árvores, apanhar lagartixas e levá-las para dento de casa para as esconder debaixo dos tapetes; se vejo um pássaro desprevenido gosto muito de lhe fazer umas “festinhas”, enfim, uma gata tem que se entreter, não acham?

Não faço só diabruras, adoro ver programas, na televisão, sobre animais. Reparem como estou concentrada a ver um programa da National Geographic sobre tigres. Gostei muito e estive a pensar que quando chegar ao tamanho deles também quero ir para a floresta…deve ser muito fixe. Vou ver se convenço os meus donos.

Adoro entrar em todos os armários, mas não sei porquê, os meus donos não gostam muito… vamos lá perceber estes humanos. Fico sempre zangada e faço cara feia quando eles me vão buscar.

Ah, já me esquecia! Sabem qual a origem do meu nome? Se não sabem eu conto-vos.

Em tempos remotos, Ana de Sousa N'Jinga M'Bandi (1583-1663), a Rainha Ginga, foi uma heroína africana e uma das maiores inimigas que Portugal teve em Angola.

Em 1621, o Rei Ngola Mbandi, irmão, da então princesa Ginga, envia-a a Luanda para negociar a paz com Portugal. Mulher de grande inteligência e determinação falou num português fluido e impôs um tratamento de igual para igual, exigindo que Portugal entregasse os chefes africanos que estavam cativos e ainda lhe entregassem armas de fogo. Como sinal de boa fé, para a celebração do acordo de paz, Ginga, assume a religião católica, que mais tarde acaba por abandonar, e assume o nome de Ana de Souza.

Coroada rainha em 1623, do Ndongo (actual Angola), Ginga fez alianças com os Jagas (nome genérico atribuídos aos grupos étnicos nómadas que invadiram o Congo e Angola) considerada uma seita cruel. Casa com o chefe dos Jagas e constitui um exercito que combateu a escravatura e resistiu, cerca de 30 anos, ao domínio português.

Segundo Michel Chandeigne, fundador da Livraria Portuguesa em Paris e especialista da história da expansão portuguesa, a Rainha Ginga, “é uma das figuras mais fascinantes da história africana” e “era uma mulher de poder, uma mulher livre, uma grande heroína africana" acrescentando que “Ginga tende a ficar na história africana como a grande heroína do continente”.

Percebem agora a importância do meu nome? E porque é que a minha dona se apropriou dele?

Esperta!!! Quer ser fascinante, heroína, livre … não, não e não esses adjectivos são todos meus. Ok?

Uffa!!! Que canseira, esta vida não é para mim, vou mas é dormir .

Miau, miau.
Grande ronrom para todos e digam à minha dona para voltar rápido para casa pois já tenho muitas saudades.

Fotografias @ginga