Texto originalmente publicado por mim em www.gedbioetica.com.br
Por que a moral varia tanto entre culturas e ainda assim apresenta diversas semelhanças e temas recorrentes?
Para tentar responder a essa pergunta, foi elaborada, pelo psicólogo social Jonathan Haidt e colaboradores, a Teoria das Fundações Morais.
A TEORIA DAS FUNDAÇÕES MORAIS
A teoria propõe que vários sistemas psicológicos inatos formam os fundamentos da “ética intuitiva”. Cada cultura, então, constrói suas virtudes, narrativas e instituições sobre determinadas fundações, criando assim moralidades únicas, que vemos em todo o mundo.
Haidt, então, propõe cinco fundações, as quais as sociedades usariam de base para a construção da moral:
Proteção / Injúria: Esta fundação está relacionada à nossa longa evolução como mamíferos e a capacidade de sentir, ou não, empatia pelos outros. É a base das virtudes da bondade, gentileza e amparo.
Equidade / Trapaça: Esta segunda fundação está relacionada ao processo evolutivo do altruísmo recíproco, e gera ideias de justiça, direitos e autonomia.
Lealdade / Traição: A nossa longa história como criaturas tribais capazes de formar coalizões mutáveis relaciona-se à fundação da lealdade / traição. Essa é a base das virtudes do patriotismo e sacrifício a favor do grupo. É ativo nos momentos em que as pessoas sentem que é “um por todos e todos por um”.
Autoridade / Subversão: Esta fundação foi moldada pela nossa longa história primata de interações sociais hierárquicas, configurando-se como a base das virtudes da liderança e seguidores, incluindo deferência à autoridade legítima e respeito às tradições.
Santidade / Degradação: Por fim, esta fundação foi moldada pela psicologia da repugnância e contaminação e constitui-se na base das noções religiosas de que o ser humano se esforça para viver de uma forma elevada, menos carnal, mais nobre. Ela está subjacente à ideia generalizada de que o corpo é um templo que pode ser profanado por atividades e contaminantes imorais. Essa ideia não é exclusiva às tradições religiosas.
O vídeo abaixo dá uma visão geral da Teoria das Fundações Morais e como pode ser aplicada no contexto político:
A Teoria das Fundações Morais é uma extensão da teoria de Richard Shweder sobre as “três éticas”. Segundo Shweder, a moral é dividida em três grandes clados, sendo eles a Ética da Autonomia, Comunidade e da Divindade.
SHWEDER E A MORAL
A Ética da Autonomia baseia-se na ideia de que as pessoas são, em primeiro lugar, indivíduos autônomos com desejos, necessidades e preferências.
As pessoas devem ser livres para satisfazer esses desejos, necessidades e preferências como entenderem, e assim as sociedades desenvolvem conceitos morais, como os direitos, liberdade e justiça, que permitem que as pessoas coexistam pacificamente, sem interferir demais nos projetos uns dos outros.
Esta é a ética dominante nas sociedades individualistas.
É possível encontrar essa forma de ética nos escritos de utilitaristas, como John Stuart Mill e Peter Singer, os quais valorizam a justiça e os direitos apenas na medida em que elas aumentam o bem-estar humano, e também nos escritos de deontologistas como Kant e Kohlberg, que prezam pela justiça e direitos, mesmo nos casos em que poderá resultar na redução do bem-estar geral.
A Ética da Comunidade baseia-se na ideia de que as pessoas são, em primeiro lugar, os membros de entidades superiores, tais como famílias, equipes, exércitos, empresas, tribos e nações.
Estas entidades superiores são mais do que a soma das pessoas que as compõem; elas são reais, elas são importantes e devem ser protegidas. As pessoas têm a obrigação de desempenhar as suas funções atribuídas nestas entidades.
Portanto, muitas sociedades desenvolvem conceitos morais como dever, hierarquia, respeito, reputação e patriotismo.
Em tais sociedades, a insistência de que as pessoas devem projetar suas próprias vidas e perseguir seus próprios objetivos parece egoísta e perigosa, uma maneira pela qual enfraquecem o tecido social e destroem as instituições e pessoas coletivas sobre as quais todos dependem.
A Ética da Divindade baseia-se na ideia de que as pessoas são, em primeiro lugar, os vasos temporários dentro do qual uma alma divina fora implantada.
“As pessoas não são apenas animais com uma porção extra de consciência; elas são filhas de Deus e devem se comportar de acordo. O corpo é um templo, não um playground. Mesmo que isso não cause mal ou viole os direitos de alguém, quando um homem tem relações sexuais com uma carcaça de frango, ele ainda não deve fazê-lo porque o degrada, desonra seu Criador, e viola a ordem sagrada do universo”.
Portanto, muitas sociedades desenvolvem conceitos morais como a santidade e o pecado, a pureza e a poluição, elevação e degradação. Em tais sociedades, a liberdade pessoal das nações ocidentais parece libertinagem, hedonismo e uma celebração dos instintos mais básicos da humanidade.
Tendo em vista as teorias de Haidt e Shweder, quais os pilares morais da nossa sociedade? O Brasil, em toda sua pluralidade, baseia-se nessas fundações propostas?
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Existe algo que - não me lembro - o Haidt não cita diretamente em The Righteous Mind - mas seria interessante levar em consideração: sociedades mais ricas/desenvolvidas possibilitam que seus membros persigam suas vidas individuais com mais folga pois não dependem da tribo/grupo/vila/família para sobreviverem economicamente e, portanto, não precisam se submeter aos ditames sociais que podem ser muitas vezes opressores. Talvez isso explique porque países como o Brasil são tão moralistas e/ou coletivistas em termos morais (conforme-se ou você não sobreviverá).