Airbag acionado por Inteligência Artificial promete evitar lesões no joelho; especialistas avaliam
Empresários londrinos inventaram um dispositivo capaz de reduzir o número de lesões no joelho, algumas das mais graves na prática esportiva. A invenção promete evitar 80% dos problemas no ligamento cruzado anterior (LCA), no ligamento colateral medial (LCM) e nos meniscos, por exemplo.
Por meio de inteligência artificial, a joelheira desenvolvida pela empresa Hippos Exoskeleton é capaz de detectar quando o joelho do atleta produz um movimento com risco de lesão. Neste momento, ela aciona um airbag, que infla em 20 milissegundos, envolvendo e estabilizando a articulação. A ação do airbag tem velocidade três vezes menor que a de um rompimento ligamentar (estimado em média de 60 milissegundos).
Nomes importantes como Rodri, do Manchester City, vencedor do prêmio da Bola de Ouro, Carvajal, do Real Madrid, e Ter Stegen, do Barcelona, sofreram este tipo de lesão recentemente e estão fora da temporada 2024/25.
A seleção brasileira sofreu cortes recentes de Pedro, do Flamengo, e Bremer, da Juventus, e pelo mesmo motivo, Neymar passou por um ano de recuperação, até voltar na última semana. O dispositivo desenvolvido pela Hippos Exoskeleton poderia representar uma esperança de maior longevidade para os atletas? O ge checou com especialistas da saúde esportiva.
O ge ouviu Bruno Mazziotti, profissional com passagens por equipes como Arsenal, PSG, Corinthians e seleção brasileira, e que hoje é gerente de saúde e performance no Real Valladolid. O especialista explica que esta tecnologia serviria para auxiliar mecanismos do nosso corpo em situações de fadiga.
— A estrutura ligamentar é rica em receptores para detectar alterações anormais de movimento. Mas, sob fadiga, essa detecção é menor. E esses sensores externos não estarão sob fadiga. Por isso, a teoria por trás dessa tecnologia é condizente. Eu acho que precisa de uma grande experimentação desse uso de órteses*, ou airbags, para que realmente possamos entender melhor como ele vai se comportar e como o indivíduo vai se adaptar a isso — alerta o profissional.
A reportagem também ouviu Marco Antônio de Araújo, sócio-fundador da Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva (SONAFE), que se demonstra cético quanto ao dispositivo. Apesar de valorizar a importância da tecnologia na busca pela prevenção de lesões, o especialista também alerta para a necessidade de ampla testagem para que não haja interferências indevidas e prejuízos para a prática esportiva.
— Você imagina os atletas usando duas joelheiras, cheias de sensores, com airbags, e que podem se ativar no momento em que o cara vai fazer o gol, porque o joelho entrou em uma situação de risco... E ele entra o tempo inteiro em situação de risco, num drible, numa dividida... Mas não é toda hora que rompe o ligamento cruzado. A linha que divide o movimento anormal do movimento funcional é muito tênue. E eu não sei o quanto a inteligência artificial já está preparada para saber esta diferença.
Apesar de a joelheira e a inteligência artificial ainda não terem sido implementadas para evitar lesões de joelho no futebol, já existe um trabalho de prevenção nos clubes. De acordo com Marco Antônio de Araújo, os cuidados passam pelo monitoramento de uma série de fatores de risco.
— O aumento do número de lesões se dá pelo aumento da intensidade no futebol. Às vezes se coloca culpa nas chuteiras, nos gramados... Mas, segundo a ciência, o segredo (da prevenção de lesões) está na gestão de todos os fatores de riscos que envolvem a formação e a manutenção deste atleta de alto nível. Desde os desequilíbrios musculares, amplitude de movimento, flexibilidade, força e tempo de reação, controle da fadiga e até questões emocionais são fatores muito importantes — afirma.
As lesões de joelho são mais recorrentes em mulheres e atletas mais jovens, por características biomecânicas. Um dos fatores mais importantes é o controle da fadiga, pois ela é responsável por diminuir a capacidade de o nosso corpo se proteger deste tipo de lesão, de acordo com Bruno Mazziotti.
— Não é tanto pela fadiga do jogo em si. De acordo com o que foi feito durante a semana, o atleta já pode chegar fadigado no jogo. Ou, mais que isso, se ele joga muito durante as semanas... Neste caso, ele não consegue chegar recuperado no processo de jogos da temporada — explica o gerente de saúde e performance do Real Valladolid.
De acordo com os especialistas, é questão de tempo para que dispositivos deste tipo sejam definitivamente implementados no esporte de alto nível para garantir saúde e longevidade aos atletas.
A invenção da Hippos Exoskeleton é revolucionária, sendo apresentada como "o primeiro airbag do mundo com tecnologia de IA para o joelho". Lançado em setembro, o artefato ganhou notoriedade após a lesão de Rodri. Os inventores dizem ter apoio de cinco equipes da LaLiga, do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da Associação Atlética Universitária dos Estados Unidos (NCAA).