Fórmula 1
Fernando Alonso chega a 400 GPs na F1 em carreira controversa
Dos 1120 Grandes Prêmios realizados desde que a F1 teve início, ainda nos anos 1950, ninguém disputou mais corridas do que Fernando Alonso. Durante o GP da Cidade do México, neste final de semana, o espanhol vai atingir a marca redonda de 400 corridas em sua carreira. Bicampeão da F1 e com 32 vitórias no currículo, é o piloto mais longevo da categoria e um dos mais talentosos de sua geração.
Rivalidade explosiva
Com os títulos conquistados em 2005 e 2006 pela Renault - batendo ninguém mais, ninguém menos que Michael Schumacher -, o espanhol surpreendeu o mundo ao anunciar a saída da equipe francesa rumo à McLaren a partir de 2007.
Lá, o bicampeão esperava receber o status de primeiro piloto, mas tinha ao seu lado um impetuoso estreante chamado Lewis Hamilton. Os dois foram companheiros de equipe por apenas uma temporada, mas foi o suficiente para implodir a equipe liderada à época por Ron Dennis.
A dupla disputou o campeonato até a rodada final no Brasil, mas eles terminaram a disputa empatados, um ponto atrás do campeão Kimi Raikkonen. Entre várias provocações e jogos mentais ao longo daquela temporada, ficou marcado o polêmico episódio na classificação do GP da Hungria.
Na ocasião, Alonso ficou parado nos boxes mais do que o necessário depois de receber a liberação do mecânico e prejudicou Hamilton, que esperava ser atendido pela equipe: como consequência, o britânico não teve tempo suficiente para abrir sua última volta rápida, enquanto Alonso aproveitou para marcar a pole position. O lance foi percebido pelos comissários que puniram o espanhol com a perda de cinco posições no grid de largada, dando a posição de honra de bandeja para Hamilton.
Espionagem
O clima hostil dentro da McLaren na temporada 2007 ganhou mais um capítulo controverso e com participação ativa do piloto espanhol. Se dentro das já rachadas garagens a briga era entre Hamilton e Alonso, na pista a disputa era entre McLaren e Ferrari. Até que eclodiu o escândalo de espionagem que ficou conhecido como Spygate, no qual a McLaren foi acusada de conseguir informações sigilosas do time de Maranello.
A polêmica respingou no espanhol ao ser exposta uma troca de e-mails do bicampeão contendo dados confidenciais sobre a Ferrari. Além disso, Alonso chegou a exigir que o time deliberadamente prejudicasse Hamilton, ou então, revelaria à Federação Internacional de Automobilismo todos os detalhes da espionagem.
O chefe de equipe, Ron Dennis, não acatou a chantagem e resolveu ele mesmo trazer o caso à tona para a FIA. Como consequência, a McLaren recebeu uma multa de US$ 100 milhões de dólares, além de ser desclassificada do Mundial de Construtores. Sem clima alguma para continuar na equipe, Alonso fez as malas ao final da temporada e retornou para a Renault em 2008.
Singapuragate
O GP de Singapura de 2008, primeira corrida noturna realizada pela categoria, reservou o maior escândalo da história da F1 na trama que ficou conhecida como Singapuragate. Na volta 14, o companheiro de equipe do espanhol, Nelson Piquet Jr, bateu sua Renault de propósito em ação orquestrada por Flavio Briatore e Pat Symonds.
O lance foi crucial porque permitiu que um discreto Alonso, que já havia feito seu pit stop duas voltas antes, assumisse a ponta quando os líderes pararam nos boxes.
Embora Alonso jamais tenha admitido saber do esquema, foi o maior beneficiado da história. O triunfo foi o primeiro do asturiano na volta à Renault e teve impacto direto na decisão do título de 2008. Isso porque Felipe Massa, que perdeu a taça por apenas um ponto para Hamilton naquele ano, era quem liderava a prova de Singapura antes do plano ser colocado em prática.
Quando a farsa foi descoberta, Flavio Briatore foi banido do esporte, mas nunca se afastou completamente do mundo da F1. O polêmico italiano seguiu como empresário justamente de Fernando Alonso e recentemente foi anunciado como consultor da Alpine – equipe que tem suas origens na própria Renault. Já Massa entrou com um processo contra a categoria no início de 2024.
Fernando está mais rápido que você
Alonso sempre foi conhecido por ser um companheiro de equipe implacável. E durante seu período de Ferrari, o espanhol dividiu as garagens do time de Maranello com Felipe Massa durante quatro temporadas. Mas não demorou muito para o bicampeão começar a tomar para si o status de primeiro piloto, mesmo com uma dose de polêmica.
Durante o GP da Alemanha de 2010, 11ª etapa daquela temporada, Massa liderava a disputa e encaminhava uma dobradinha da Ferrari com Alonso no segundo lugar. Até que na volta 49 o engenheiro do brasileiro, Rob Smedley, surgiu no rádio e proferiu a seguinte frase: “Fernando está mais rápido do que você. Você pode confirmar que entendeu esta mensagem?”
A sentença codificada era um claro pedido para Massa abrir passagem para o companheiro de equipe e assim o fez. Ao final das 67 voltas, Alonso venceu e cruzou a linha de chegada com 4 segundos de vantagem para o brasileiro. O constrangimento no pódio era visível e, quando questionado sobre a polêmica inversão de posições, o espanhol disse apenas que não sabia de nada e que pensou que Massa tinha problemas mecânicos.
Motor de GP2
A segunda passagem de Alonso pela McLaren começou em 2015 cheia de expectativas para reviver o sucesso da equipe britânica junto da recém-chegada Honda, de volta como fornecedora de motores na F1.
No entanto, a montadora japonesa não conseguiu se adaptar ao novo regulamento híbrido e sofreu com a falta de desempenho e confiabilidade de seus motores. E os maus resultados foram o estopim para despertar a ira do piloto espanhol.
Durante o GP do Japão de 2015, realizado em Suzuka, Alonso foi ultrapassado com facilidade na reta principal pelo então estreante Max Verstappen a bordo da modesta STR. O espanhol então esbravejou pelo rádio: “Motor de GP2, motor de GP2”, seguido por um grito de frustração. Vale destacar que GP2 equivale a atual F2, categoria de acesso para a F1.
O ato foi entendido como uma humilhação pública para a Honda que fazia sua corrida de casa. Conhecido por ser uma figura bastante midiática, o rádio de Alonso foi reproduzido várias vezes e virou piada, mas serviu para azedar ainda mais o relacionamento com a fornecedora nipônica.
A relação de Alonso com a Honda seguiu conturbada e nem mesmo os memes criados foram o suficiente para disfarçar o clima tenso. No GP do Brasil de 2015, o espanhol foi visto relaxando em uma cadeira de sol na beira da pista de Interlagos depois de abandonar a classificação por problemas mecânicos.
A imagem, claro, viralizou as redes sociais, mas serviu para destacar a frustração do espanhol com a fornecedora japonesa. Na mesma corrida, ele e o então colega Jenson Button tiraram fotos no pódio de Interlagos no sábado porque "não estariam mais tão perto dele". A parceria seguiu com poucos resultados positivos, até que o piloto resolveu deixar a categoria ao fim de 2018, antes de retornar em 2021 com a Alpine - com duas 24h de Le Mans e um título das 24h de Daytona no currículo.
Ao longo de 21 temporadas, o experiente espanhol de 43 anos já percorreu o equivalente a 50 vezes a circunferência da Terra e deu mais de 70 mil voltas em um carro de F1. E com contrato renovado com a Aston Martin para os próximos anos, o piloto segue em busca do terceiro título mundial e mais algumas voltas pelos circuitos espalhados pelo mundo.