The Purgatory // O Purgatório

I would love to be able to write about some light topic here, normally my nature is already to bring heavier and bittersweet content. But there is a difference between wanting to purposely bring a heavy topic, and not being able to think of something other than that density. The fact is, it's been a rough couple of weeks here, and this is going to end up being a bit of a confessional outburst post, because if that's what I can write, why not write it?

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A few days ago a very close friend tried to end his life by hanging himself. He failed to complete his mission and is now admitted to a hospital, intubated and in a medically induced coma. And this was all very, in fact, it's been very, very difficult to understand and digest. And not that it was a surprise, because knowing him as I did, I knew death was his greatest wish. Regardless of everything that was said, of every attempt that was made, there was always a despondency and lack of desire to be alive that surpassed everything else. There were few times I saw him functioning intensely with vital energy and disposition and most of the time this only happened when he used cocaine.

We learn a lot in a very bitter and painful way, and I learned how harmful a drug is by seeing the level it has reached. But I definitely can't suggest and I wouldn't want anyone to blame the drug for taking him on this quest to the end, because as I've said, he's always been that way since I met him, and even before. Why, I learned that he had already tried to hang himself again, and had already been hospitalized for depression and bipolarity. And even later, during some phases of our friendship, he tried to kill himself. Filling up on medicine, throwing your car off the track, etc. But this time, it seems he did things more willingly and more assertively. And he ended up without oxygen for a long time, he had part of his brain affected and now he's in a situation where we don't know what's going to happen. His parents are suffering and so are all those closest to him.

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I think it's very complicated, very difficult to judge the attitude. But yes, of course it is terrible to affect everyone around you selfishly by committing suicide. But, suicide is not a simple conscious option, like whether or not you want to eat pizza. The constant, eternal feeling of not getting on with life itself is far beyond what we are ready to conceive, and often these people act on an impulse that takes a long time to decide. Whether or not they know what consequences they will face, how difficult or not it will be and whether it will work or not, I don't think that matters. The fact is, people kill themselves, or try to kill themselves.

When faced with this news and situation I naturally felt guilty for not having done enough, being the closest friend, wishing I could at least explain to him that I swear, I swear I tried my best, but I was no longer able to do something for him and for all that behavior that had become poison to those around him. I wish I could tell him to try something else first, as in this case I have said several times. I remember telling him well: -Before you decide to kill yourself, what do you think about trying just one more thing? Try this (or that) and if it doesn't work, if it doesn't help, you're free to do whatever you want. And he tried. He tried a psychiatrist (but without enough effort, with no results in the medicine he was using), he tried a psychologist, he tried Ayahuasca, he tried God, he tried dating, he tried everything. But nothing at a level of commitment enough, he always seemed to be dissatisfied or at least discontented with real life and its costs and consequences.

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I am well aware that he did not want to cause suffering for his parents, but ironically ended up achieving the opposite extreme, given that his mother found him hanged. They had to take him to the hospital in despair, and now day after day they are apprehensive awaiting some news, good or bad. If he survives, it looks like he'll live with major sequelae, given the amount of damage he's done to his brain from lack of oxygen, and he'll have to be cared for by his parents for the rest of his life, self-conscious perhaps and tied to a much longer journey. tortuous than it had been until then. If he dies, he will give just as great pain, because in fact, despite all his parents' struggle for his life, he is gone. In other words, it doesn't have a happy ending in this case. And this is very hard, very heavy for us human dreamers who seek to smile and love, who seek to build and improve, who live the adventures of the day, whether light days or heavy days. We are people who, despite everything, wash the dishes, sweep the floor, feel comfort in a hot bath and in the embrace of those we love, we try to watch something comfortable and welcoming and then we are faced with a situation like this, which will not have a beautiful solution, nor even more or less positive. It's stark reality explicit in a way that devastates and makes you think about a lot.

This is not a requiem, this is not an ending text, because I still don't know where it will end up, whether in the world of the living or "what comes next, be it something or nothing". But the tone of regret installed in this theme is not purposely designed to generate pain in you reader. I just needed to talk. Put something out there, without having to feel inside a "post-death dedication rehearsal for my great friend". As paradoxical as it is, what I can say is that with this attitude of his, the most intense and damned attitude he could have performed, I am feeding my "spirit" with more strength and desire for life, with more greed for what it's good and it's good, because I'm also a depressed person, but I'm not a suicidal person. And yet, this contrast makes me see with incredible prominence and clarity how "sacred" life is, how intense and unique is the opportunity to be here and breathe, choose, act, think, love and live.

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The first three arts in this post are by the artist Erik Thor Sandberg

Thômas H N Blum

PORTUGUÊS

Eu adoraria poder escrever sobre algum tema leve aqui, normalmente minha natureza já é de trazer conteúdos mais pesados e agridoces. Mas existe uma diferença entre querer trazer um tema pesado propositalmente, e não conseguir pensar em algo que não seja nessa densidade. O fato é que tem sido semanas difíceis por aqui, e esse vai acabar sendo um post meio confessional de desabafo, por que se é isso que eu consigo escrever, por que não escrever?

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Há alguns dias atrás um amigo muito próximo tentou por fim a sua vida, enforcando-se. Ele não conseguiu concluir sua missão e está agora internado em um hospital, entubado e em coma induzido. E isso tudo foi muito, aliás, está sendo muito, muito difícil de compreender e digerir. E não que fosse uma surpresa, por que conhecendo ele como eu conhecia, sabia que a morte era seu maior desejo. Indiferente de tudo que fosse falado, de toda tentativa que fosse feita, sempre havia um desânimo e uma falta de desejo por estar vivo que superava todo o resto. Foram poucas vezes que vi ele funcionando intensamente com uma energia vital e disposição e a maioria das vezes isso só acontecia quando ele usava cocaína.

Muita coisa a gente aprende de forma bastante amarga e dolorosa, e eu aprendi o quão danosa uma droga é ao ver o nível que ele chegou. Mas definitivamente eu não posso sugerir e nem gostaria que ninguém culpasse a droga por lhe levar nessa busca pelo fim, por que como eu já disse, ele sempre foi assim, desde que conheci ele, e antes inclusive. Por que, eu soube que ele já tentara outra vez se enforcar, e já fora internado por depressão e bipolaridade. E mesmo depois, durante algumas fases de nossa amizade, ele tentou se matar. Entupindo-se de remédio, jogando seu carro fora da pista, etc. Porém dessa vez, parece que ele fez as coisas com mais vontade e mais assertividade. E acabou ficando muito tempo sem oxigênio, teve parte do cérebro afetado e agora está lá numa situação onde não sabemos o que vai acontecer. Seus pais estão sofrendo e todos os mais próximos que conviveram com ele também.

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Acho muito complicado, muito complicado julgar a atitude. Mas sim, é claro que é terrível afetar todos ao seu redor egoisticamente ao se suicidar. Mas, o suicídio não é uma opção consciente simples, como desejar ou não comer pizza. A sensação constante e eterna de não aguentar mais a própria vida é muito além do que estamos prontos para conceber, e muitas vezes essas pessoas agem num impulso que leva muito tempo para ser decidido. Se sabem ou não que consequências enfrentarão, quanto aquilo vai ser difícil ou não e se vai dar certo ou não, acho que não vem ao caso. O fato é que as pessoas se matam, ou tentam se matar.

Ao me confrontar com essa notícia e situação eu naturalmente me senti culpado por não ter feito o suficiente, sendo o amigo mais próximo, desejando poder ao menos explicar pra ele que eu juro, juro que tentei o meu melhor, mas não era mais capaz de fazer alguma coisa por ele e por todo aquele comportamento que havia se tornado veneno para quem estivesse ao seu redor. Eu queria poder dizer para ele tentar alguma outra coisa antes, como no caso já cheguei a dizer várias vezes. Lembro bem de lhe falar: -Antes de você decidir por se matar, o que acha de tentar só mais uma coisa. Tenta isso (ou aquilo) e se não der certo, se não ajudar, você é livre pra fazer o que quiser. E ele tentava. Tentou psiquiatra (mas sem suficiente esforço, sem resultados no remédio que utilizava), tentou psicóloga, tentou Ayahuasca, tentou Deus, tentou namoro, tentou tudo. Mas nada num nível de comprometimento suficiente, parecia sempre estar insatisfeito ou ao menos descontente com a vida real e suas custas e consequências.

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Sei bem que ele não queria causar sofrimento para seus pais, mas acabou ironicamente conseguindo o extremo oposto, dado que sua mãe o encontrou enforcado. Tiveram que levá-lo desesperados até o hospital, e agora dia após dia apreensivos aguardam alguma notícia, boa ou ruim. Se ele sobreviver, parece que viverá com grandes sequelas, dado o tamanho do estrago que fez em seu cérebro pela falta de oxigênio, e terá que ser cuidado pelos pais pelo resto da vida, consciente de si mesmo talvez e atado a uma jornada muito mais tortuosa do que vinha sendo até então. Se ele morrer, ele dará dor tão grande quanto, por que de fato, apesar de toda a luta de seus pais pela sua vida, ele se foi. Ou seja, não tem final feliz nesse caso. E isso é muito duro, muito pesado para nós humanos sonhadores que buscamos sorrir e amar, que buscamos construir e melhorar, que vivemos as aventuras dos dias, sejam dias leves ou dias pesados. Somos pessoas que apesar de tudo lavamos a louça, varremos o chão, sentimos conforto em um banho quente e no abraço de quem amamos, procuramos assistir algo confortável e acolhedor e daí nos confrontamos com uma situação como essa, que não terá solução bonita, nem mesmo mais ou menos positiva. É a realidade nua e crua explícita de um jeito que devasta e faz você pensar em muita coisa.

Isso não é um réquiem, não é um texto de fim, por que ainda não sei onde ele vai ficar, se no mundo dos vivos ou "no que virá depois, seja algo ou seja nada". Mas o tom de pesar instalado nesse tema não é propositalmente elaborado para gerar dor em você leitor. Eu só precisava falar mesmo. Por algo pra fora, sem ter que ficar sentindo no íntimo um "ensaio de dedicatória pós morte para meu grande amigo". Por mais paradoxal que seja, o que eu posso afirmar é que com essa atitude dele, a mais intensa e maldita atitude que ele poderia ter executado, eu estou alimentando meu "espírito" de mais força e desejo de vida, de mais ganância pelo que é bom e o que faz bem, por que também sou uma pessoa depressiva, mas não sou uma pessoa suicida. E ainda assim, esse contraste me faz ver com incrível destaque e clareza o quão "sagrada" é a vida, quão intensa e única é a oportunidade de estar aqui e respirar, escolher, agir, pensar, amar e viver.

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As três primeiras artes desse post são do artista Erik Thor Sandberg

Thômas H N Blum