Vou fazer um relato da minha experiência com uma síndrome do pânico fortíssima que vivenciei por cerca de 5 anos. Na época, tinha pouca (ou quase nenhuma) esperança de ficar livre do problema.
Tive síndrome do pânico aguda por uns cinco anos, sendo os dois primeiros os anos mais difíceis. Tive mais de dez crises de panico por dia. Por cerca de um ano, era difícil até pisar na rua. Sei que muita gente passa por isso e não gosta de dizer. Para alguns é sinal de fraqueza relatar que já passou por algo assim, mas posso dizer que nenhuma experiência me fortaleceu tanto quanto a experiência de aprender a lidar com as crises de ansiedade.
Queremos, sobretudo no meio profissional, parecer tranquilos, eficientes e capazes de nos dedicar aos estudos e ao trabalho por horas seguidas. Por causa disso, muitos de nós, quando passam por stress e crises de ansiedade, enfrentam tudo calados. Se o meio profissional, e às vezes até familiar, encarasse o assunto com mais naturalidade, talvez pudéssemos acolher melhor as pessoas que passam pelo problema caladas, ou até mesmo adotar mais medidas para redução da ansiedade e do stress onde quer que estejamos.
Pesquisei muito sobre crises de ansiedade. Aprendi a lidar com o pânico sozinha. Aprendi a olhar pra dentro e descobrir a fonte da ansiedade e do medo. Aprendi a ver quais pensamentos eram mais recorrentes antes da crise de ansiedade ser disparada e assim pude conhecer melhor aquele processo.
Alguns profissionais da área tem uma visão muito negativa em relação ao pânico e chegam a dizer que você terá que conviver com o pânico pro resto da vida, que ele é genético e que o remédio é o único caminho. A única terapeuta que fui, que por sinal era "muito conceituada" - psiquiatra com mais de uma graduação e algumas especializações - me disse isso... E, por ter sentido a negatividade dela em relação ao assunto, nunca mais voltei no consultório. Mas não aconselho isso a ninguém. Hoje sei que com a ajuda de UM BOM TERAPEUTA (o que não é atributo de quem tem apenas uma boa formação teórica e sim, EXPERIÊNCIA e DOM) PODERIA ter encurtado muito o sofrimento que vivenciei em decorrência do pânico.
Não deixe de buscar a ajuda de um BOM profissional, pois isso é realmente muito importante. No meu caso, não tive a oportunidade de buscar tratamentos alternativos e nem terapias tradicionais, porque a grana era bastante curta. Então, tive que me virar sozinha. Comecei a buscar coisas que me deixavam mais tranquila e a evitar coisas que me agitavam mais. Comecei a buscar meios para lidar com a crise de ansiedade no momento que ela ocorria... E fui melhorando, com o tempo. Não foi fácil. Foi uma batalha diária. Mas, três anos depois da primeira crise, já estava bem melhor do que no princípio. As crises voltavam de tempos em tempos. Foi aí que, no finalzinho desse processo pessoal de cura, encontrei um amigo que é profissional da área e especialista em síndrome do pânico. Ele conversou comigo por horas sobre o pânico. A visão dele sobre o assunto, muito mais aprofundada e POSITIVA, foi uma enorme ajuda. Mudou completamente a forma como eu enxergava o problema e me deu mais segurança para enfrentar o pânico. Essa única conversa, que durou umas seis horas, foi um divisor de águas. Nos 2 anos seguintes a essa conversa, tive pouquíssimas crises. Continuei praticando a meditação e um dia, não sei ao certo quando, elas desapareceram completamente e nunca mais voltaram. Mesmo tendo passado por períodos de stress decorrente de muitas tarefas e muito trabalho pra fazer, fiquei livre do pânico. Por isso, percebi que é essencial encontrar um bom profissional.. Talvez eu tivesse resolvido o problema em bem menos tempo se tivesse encontrado o meu amigo antes.
Não deixe de buscar ajuda à curto prazo e não deixe de acreditar que existe a possibilidade de cura completa, à longo prazo. As crises de ansiedade , com tratamento e mudanças de hábito, poderão passar da mesma forma que vieram.
Eu não convivo mais com o pânico, apesar de ser ainda ansiosa. Nunca tomei remédio e nem fiz terapia (só essa única consulta informal com meu amigo que me ajudou muito). Quem está passando por isso e tiver a oportunidade de fazer terapia, com tratamento medicamentoso recomendado por um bom psiquiatra, deve fazer e deve tomar remédios se achar melhor.... À curto prazo pode ser mesmo ESSENCIAL. Mas não fique restrito a isso, pois isso o remédio é para ajudar com os sintomas e não com a raiz do problema. Adote também hábitos de vida que ajudam a acalmar a mente e as emoções.
Encontre o que te faz bem. O que serviu pra mim, pode não servir pra você e vice e versa. Tente meditação, dança, yoga, artesanato ou uma corrida matinal, por exemplo, tente algo que goste. Mas não espere as crises chegarem pra adotar coisas que te deixam calmo. Faça isso até mesmo quando estiver se sentindo bem. Acredite... a mudança é silenciosa e os hábitos de vida mais tranquilos fazem uma enorme diferença.
Sempre acreditei na cura com mudança de hábitos. Pesquisei muito sobre o assunto e comecei a perceber como o processo de pânico era desencadeado EM MIM. Existem medidas que ajudam a lidar com a crise a curto prazo. O remédio é uma delas, a concentração na sensação do corpo e nos sentidos é outra. Mas existem várias outras coisas que podem ser experimentadas. É importante descobrir o que funciona melhor para você.
O QUE EU FIZ:
No meu caso, fiz várias coisas, por um período prolongado, sempre buscando a cura:
- Descobri que era muito sensível a cafeína e cortei o café.. Depois fui saber que isso não era uma coisa minha. SAIBA QUE CAFÉ NÃO É RECOMENDADO PRA QUEM TEM SÍNDROME DO PÂNICO
- Eu já meditava esporadicamente, mas fiz da meditação matinal uma prática diária, inclusive durantes dos fins de semana. Mas NÃO MEDITAVA DURANTE AS CRISES, porque não conseguia isso me deixava mais ansiosa.
- Passei a caminhar diariamente perto de casa e, no caminho, ao invés de ficar pensando em problemas e preocupações, eu colocava a atenção nos sons ao redor e nas paisagens. Trazia a atenção ao momento presente. Sentir a planta dos pés tocando o chão enquanto eu caminhava me ajudava muito a relaxar. Aprender a despertar os seus cinco sentidos... (tato, olfato, paladar, audição, visão) ajudam a frear naturalmente a ansiedade.
- Passei a escrever diariamente. O pânico é só um sintoma das coisas negativas (principalmente os medos) que você guarda no subconsciente (ao invés de lidar com elas). Escrever é uma forma de se conhecer melhor e saber melhor o que se passa dentro de você. Aceite as suas fraquezas e medos. Aceite as suas dificuldades e tenha fé que você irá se fortalecer com elas... Escrever é um forma de jogar um pouco de luz no que está oculto dentro de nós...
- Comecei a respirar fundo, pelo diafragma. Colocava uma das mãos sobre o peito e a outra mão na barriga. Sentia o abdômen subir e descer enquanto respirava....
- Comecei a fazer um exercício de relaxar os músculos. Para me ajudar a sentir o corpo enquanto fazia esse relaxamento muscular, primeiro contraía um grupo muscular por dez segundos e depois relaxava.
- Comecei a praticar atividade física regularmente e tomava esse momento como um momento para estar comigo mesma. Afastava as preocupações e desfrutava do momento presente.
- O pânico alimenta o próprio pânico. Então, comecei a me acalmar me dando conta de que o meu corpo está totalmente preparado para lidar com a sensação de pânico. Não precisava mais achar que eu estava enlouquecendo ou que ia morrer por causa das constantes taquicardias... Então parei de ter medo das crises... e fui deixando de ficar autovigilante. Confiava, a cada dia, que quando a crise chegasse, eu estaria cada vez mais preparada para lidar com ela.
- Descobri que não era o peso das atividades em si que geravam o stress e a ansiedade em mim... e sim a carga que eu colocava em cima das tarefas do dia a dia. No meu caso, as crises eram disparadas pela auto-cobrança, pela ansiedade,pelas expectativas e pelos medos em relação ao futuro... Então, fui voltando a fazer, aos poucos, coisas que eu deixara de fazer por causa do pânico. Mas busquei fazê-la sem o peso que outrora colocava nelas.
Há mais de 5 anos não tenho crise alguma de pânico, mesmo nas épocas em que eu passava MUITAS noites em claro estudando e com toda a pressão de provas, estágio e entrega de projetos. As crises de pânico nunca mais apareceram, mesmo com a rotina PESADA de estudos.
Mas, também, jamais abandonei a maioria desses hábitos que adotara na época. Sempre reservo TEMPO para eles. E sei exatamente a hora de PARAR quando me sinto sobrecarregada com algo.
Algumas pessoas começam a deixar de fazer muitas coisas por causa do pânico. À princípio, para frear o processo de ansiedade, eu também deixei. Como ir à lugares sozinha, viajar, estudar demais e etc. Reduzi as atividades e me dediquei mais à mudança de hábitos. Depois comecei a inserir essas atividades normais novamente, aos poucos. Porém, de uma forma nova, vendo como esse processo de ansiedade era disparado a cada atividade que eu incluía.
Devemos buscar não no desesperar com o pânico, nem sustentar uma visão negativa em relação à ele... muito menos nos conformar com as crises de pânico, pois existe CURA.
O que aprendi com a minha luta contra a ansiedade é que o primeiro passo é aprender como lidar com a crise de ansiedade na hora que acontece.
O segundo passo é conhecer o processo de pânico e não se desesperar ainda mais com ele... (o que poderia deixá-lo autovigilante - sempre com medo de que uma nova crise aconteça.Você deve pensar que as crises de pânico são passageiras. Você deve encará-lo como o sintoma decorrente de um processo de stress, ansiedade, de preocupação ou auto cobrança que você foi acumulando ao longo do tempo... mas que pode ser desfeito, só que isso também LEVA TEMPO .
Não se desespere durante uma crise de pânico. Algumas pessoas, durante a "inexplicável" taquicardia decorrente da crise de pânico, pensam que vão ter um ataque cardíaco (algumas pessoas com que conversei já me disseram que passaram por isso). Ou pensam que irão enlouquecer devido a rapidez dos pensamentos na hora da crise. Isso acontecia comigo e gerava mais ansiedade ainda durante a crise, pois realimentava o processo do medo e da ansiedade já iniciado. Você deve pensar que o seu corpo é totalmente preparado para lidar com situações de pânico. A crise de pânico ocorre quando esse sistema de medo é acionado na hora errada, em um momento em que não há perigo real. Mas o processo, em si, é natural. O sensor de perigo é que está desajustado. Mas é possível acalmá-lo, na hora que acontece... e consertá-lo. Só que consertar leva certo tempo. Apesar de a primeira crise de pânico ter surgido DO NADA, o processo de ansiedade que a desencadeou provavelmente já ocorria, silenciosamente, há anos. Por isso, para desfazê-lo, é necessário certo tempo...
O terceiro passo é encontrar tempo para fazer coisas que ajudam a lidar com o problema a curto e a longo prazo. Enfim, qualquer coisa que lhe ajuda a reduzir a ansiedade no dia a dia ajuda muito, principalmente à longo prazo.
Eu resolvi relatar aqui a minha experiência com o pânico não exatamente para "dizer o que fazer" às pessoas que estão passando pelo problema, pois para isso existem OS BONS PROFISSIONAIS DA ÁREA. Eu resolvi escrever minha experiência porque sei que pode ser bom ouvir a opinião de alguém que já sentiu as mesmas coisas, que teve que aprender a lidar com elas e que conseguiu. Ademais, sei a importância de FALAR SOBRE O ASSUNTO! A maioria das pessoas escondem que passam ou mesmo que já passaram por coisas assim. Isso gera mais desinformação e faz com que as pessoas que estão passando por esse período se sintam perdidas, sozinhas ou sem referência. Eu me senti assim também. Mas ficar calado não ajuda em nada. É sempre bom falar sobre isso com alguém de MUITA CONFIANÇA e/ou com um bom profissional da área.
Contem comigo.
Saudações, querida mocinha Amanda
Que bom que superou sua síndrome do pânico. Essa síndrome ocorre quando a pessoa está no auge da ansiedade. Li seu texto inteiro e o relato me chamou atenção nas técnicas que você usou para lidar com isso e, principalmente, quando você percebeu que sua ansiedade é causada pela sua interpretação de mundo, ou seja, não é o fato em si que causa algo ruim á nós, é nossa interpretação sobre ele.
Você estava interpretando seu trabalho como algo causador de muita ansiedade, então, isso gerou essa crise de pânico em você, pois, quando a pessoa é ansiosa, ela amplia o problema e se vê incapaz de resolvê-lo.
Imagino que nesse processo de cura você tenha modificado suas crenças em relação á seus problemas e tenha se enxergado com possibilidade de resolvê-los.
Fico feliz por ler relatos assim.
Obrigado e bom dia!!!!
Nesse processo ocorreram sim muitas mudanças de crenças. Sem essas mudanças não seria possível melhorar. Como você disse, não são as circunstâncias externas, na maioria das vezes, que nos derrubam, são as nossas crenças em relação a elas. O sofrimento é capaz disso, de fazer a gente se reinventar e buscar novos caminhos para lidar com a gente mesmo e com o mundo. A maioria das técnicas que citei aqui serviram para eu conseguir segurar a onda durante as crises. Mas a observação das minhas crenças e de como elas desencadeavam o processo de ansiedade é que fizeram a verdadeira mudança.
E a superação é muito transformadora. Hoje, sempre que me vejo diante de algo difícil eu penso: Se eu fui capaz de atravessar aquilo, serei capaz de superar isso também. A sensação de superação é uma "janela interior muito positiva". Ou então penso que o mais difícil eu já fiz... que foi curar do pânico.... e é isso que importa... O restante eu posso superar.
Que bom que gostou.
Que lindo, senhorita Amandita
Você é um exemplo :D
Parabéns, seu post foi selecionado para o BraZine! Obrigado pela sua contribuição!
Olá @amandavale!
Acabei de ler seu texto e seu relato, e a maneira que aos poucos você começou a utilizar, para lidar melhor com a síndrome do pânico. Conheço várias pessoas com Síndrome do Pânico, e o momento que ela ocorre, porque muitas vezes foi inesperada é complicada...
A ansiedade complica nossa vida, mas quando começamos a enxergá-la de outra forma, e procuramos formas de resolvê-la, e conseguimos, é renovador.
Parabéns por sua superação e que ótimo relato...
É legal as pessoas poderem entender o processo do pânico. Com a ajuda de amigos e familiares pode ser mais simples. Quando passamos por algo assim, nos sentimos muito sozinhos e nos sentimos incapazes, pois vamos deixando de fazer as coisas básicas do dia a dia por causa da possibilidade de ter uma crise... Muitas pessoas são incompreendidas nos meios que vivem. Ter alguém por perto que entenda o que é o pânico e que compreenda... é uma grande ajuda.
Que bom que gostou.
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